Ser professor é uma vocação e sinceramente eu acho que nasci com ela. Essa história começou quando eu era adolescente. Eu sempre fui um pouco nerd, era muito comum estar com um livro ou gibi lendo. Enquanto meus colegas jogavam futebol na rua, eu marcava presença mas ao invés de participar ou prestar atenção naquela pelada sem sentido, eu lia os livros que pegava emprestado na biblioteca da escola. Os pais dos meus colegas observavam isso e me elogiavam. Eu obviamente me sentia envergonhado, eles estavam engrandecendo uma ação que para mim era normal. Próximo da casa de minha mãe tinha uma vila, habitada por pessoas bastante humildes. Lá morava Maraísa que na época tinha 7 anos, neta de dona Amália que trabalhava de empregada no casarão da Sete de Setembro. Essa menina foi matriculada no Colégio Valadão na 1ª série do ensino fundamental sem saber ler, nem escrever seu nome. Ela sofria de problemas neurológicos em decorrência de remédios abortivos que sua mãe tomou. Muita gente não tinha paciência com ela, na escola ela se sentia envergonhada por não acompanhar o ritmo dos seus colegas. Por causa disso ela perdeu a vontade de estudar, quando descobri, me coloquei a disposição para ajudar. Na época estudava o 3º ano do 2º grau, estava bastante ocupado na preparação para o vestibular, mas mesmo assim quis ajudar. Mesmo instintivamente, sem nenhum conhecimento das teorias educacionais, das técnicas de ensino fui repetindo o que meus professores tinham feito comigo na alfabetização e com muita paciência fui enxertando auto confiança nela. Valorizando cada acerto, corrigindo os erros, mas mostrando onde ela errou e indicando um caminho certo. Passamos o ano juntos, inclusive as férias. A avó dela não tinha como pagar, eu sabendo da condição financeira da família, não fiz questão e dispensei os honorários. Literalmente fiz por amor, eu comprei a causa daquela menina que se sentia acuada. Tínhamos esse sentimento em comum, pelo menos naquela época, que me sentia acuado, por motivo diferente do dela. Eu era um exemplo pra para aquela menina, quando ela me olhava tinha um brilho no olhar de admiração e respeito, ela sentia segurança em mim. Meu Deus! Eu passava segurança pra alguém! (risos). No fim do ano ela chegou na minha casa com dois envelopes. No primeiro estavam as provas com o resultado final, aprovada e com notas boas, no segundo tinha uma carta que ela escreveu. Eu chorei da primeira palavra até a última, no texto ela agradecia pela ajuda e contava sobre os planos futuros. Naquele momento eu me senti realizado e desejei ter aquela sensação mais vezes, escolhi ser professor para poder continuar participando desse processo tão grandioso de ensino-aprendizagem. Depois eu descobri a Biologia, estudei as teorias e refinei aquele jeito instintivo de lecionar. A caminhada é longa, ainda estou no processo de lapidação e espero estar me aperfeiçoando sempre. Tive várias experiencias maravilhosas na docência, continuo tendo e espero continuar a ter por muitos anos. Feliz dia dos professores a todos os meus colegas de profissão, principalmente aqueles que acreditam no que fazem. A vocês o meu respeito e admiração!